Por Renato Carbonari Ibelli
Fonte: Diário do Comércio – SP
A incidência de
impostos em cascata torna cara a cadeia produtiva de equipamentos elétricos e
eletrônicos
A
recessão atingiu as empresas em cheio, comprometendo seu faturamento e
capacidade de investir.
Em
meio a um cenário de degradação econômica, os empresários cobram ações do
governo que desencadeiem uma retomada. Entre elas, mudanças no sistema
tributário do país.
Empresários
do setor de eletroeletrônicos, um dos mais afetados pela crise econômica,
cobram a simplificação da tributação.
A
complexidade e o peso dos impostos fazem com que os preços dos equipamentos
eletrônicos produzidos no país se posicionem entre os mais caros do mundo.
Os
impostos respondem por praticamente a metade do preço de muitos desses
equipamentos.
É
o caso do televisor, cujo valor embute 45% de tributos. Ou de uma máquina de
lavar roupa, com carga tributária de 42%. Há exemplos mais extremos.
A
simplificação tributária requisitada pelo setor de eletroeletrônicos se
concretizaria na forma do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), proposta discutida
pelo governo e que vem sendo apoiada pela Associação Brasileira da Indústria
Elétrica e Eletrônica (Abinee).
O
IVA aglutinaria o ICMS, ISS e o Pis/Cofins. De fato é uma proposta que tem
potencial para reduzir a tributação sobre a produção, pois, a princípio, esse
novo imposto seria cobrado uma única vez, na venda, diferentemente de como
ocorre hoje, com imposto incidindo ao longo de toda a cadeia produtiva.
O
ICMS, por exemplo, hoje incide sobre o preço do computador montado, pronto para
a venda. Mas esse tributo já havia incidido também nos componentes usados na
fabricação do computador, no processador e no monitor, por exemplo.
“É
hora de acabar com o hospício tributário que dificulta a atividade produtiva. O
principal caminho para uma Reforma Tributária é a simplificação”, diz Humberto
Barbato, presidente da Abinee.
Ele
é um dos representantes do setor produtivo no Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social, que elabora uma proposta de Reforma prevendo a criação do
IVA.
Outro
ponto destacado por Barbato diz respeito à necessidade de se facilitar a vida
do empresário que deseja crescer. “O Brasil é um dos únicos países do mundo em
que se tributa os investimentos”, diz o presidente da Abinee.
Os
investimentos do setor de eletroeletrônicos totalizaram R$ 2,4 bilhões ao longo
de 2016. Esse valor foi 25% inferior ao registrado em 2015 (R$ 3,2 bilhões),
que por sua vez já havia caído em comparação aos R$ 3,8 bilhões investidos em
2014.
A
redução dos investimentos caminha junto com a redução do faturamento nominal do
setor, que recuou 8% entre 2015 e 2016, passando de R$ 142 bilhões para R$ 131
bilhões.
Barbato
afirma que o excesso de obrigações acessórias e a incidência em cascata dos
impostos distanciam a produção brasileira dos competidores mundiais.
“Por
se distanciar da estrutura tributária prevalecente em países de renda similar à
nossa, o Brasil se torna caro, pouco competitivo e pouco atrativo para
investimentos internacionais”, diz o presidente da Abinee.
Alguns
segmentos do setor eletroeletrônicos se mantiveram com base em desonerações
concedidas pelo governo nos últimos anos.
Caso
de produtos da linha branca, como fogão e geladeira, que até 2014 tiveram
redução no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).
No
caso de equipamentos de informática, como tablets e computadores, eles ainda
estão incluídos na chamada Lei do Bem, beneficiados assim por desonerações
tributárias.
Caso
a Reforma Tributária de fato saia do papel, a tendência é que desonerações
sejam extintas.
Esses
benefícios setoriais passaram a ser vistos como vilões dentro da estrutura
fiscal do governo. Na visão dos empresários do setor eletroeletrônico, se o
sistema tributário fosse simples, não haveria a necessidade desses paliativos.
De
tempos em tempos, a Reforma Tributária emerge entre as pautas debatidas em
Brasília, geralmente quando os tempos são difíceis.
Mas
em geral o tema volta para o fundo das gavetas. O fato é que sem mudanças na
estrutura dos impostos do país, a recuperação econômica seguira o tom do mantra
entoado pelo governo e analistas econômicos, que apostam em uma retomada lenta
e cheia de sobressaltos.
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