terça-feira, 8 de março de 2016

Tribunal paulista cancela protesto de dívidas de ICMS

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A 11ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ­SP) determinou que a Fazenda paulista cancele protestos de dívidas de ICMS. Apesar de o Órgão Especial já ter considerado a prática constitucional, os desembargadores aceitaram o argumento de que a cobrança deveria ser feita pelo meio menos prejudicial ao contribuinte.

Especialistas afirmam que a decisão, favorável a uma fabricante de produtos escolares e de escritório, abre precedente para uma nova discussão sobre o protesto de certidões de dívida ativa (CDAs) e a inclusão do nome de contribuintes em órgãos de proteção ao crédito. Isso porque desta vez, ao contrário de outros julgados, não foi discutida a legalidade da prática.


Relator do caso, o desembargador Ricardo Dip afirma, no acórdão, que "ainda que se reconheça a admissibilidade legal do protesto", deve-­se observar o artigo 620 do Código de Processo Civil (CPC). O dispositivo ­ que no novo CPC consta no artigo 805 ­ determina que "quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o devedor". 


O advogado Marcelo Annunziata, do escritório Demarest, chama a atenção que as discussões judiciais, até agora, abordavam a questão da legalidade do protesto de dívida ativa, se era ou não possível. Advogados de contribuintes argumentavam, principalmente, que a certidão de dívida ativa já é um título executivo extrajudicial para promover a execução. Os tribunais, no entanto, vinham se manifestando em favor do Fisco.


No ano passado, o Órgão Especial do TJ­SP reconheceu a constitucionalidade do protesto. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) também já tratou do assunto. A 2ª Turma decidiu pela legalidade. O caso envolvia a Prefeitura de Londrina, no Paraná, e uma empresa de engenharia.


O sócio da área tributária do Veirano Advogados, João Agripino Maia, entende, no entanto, que a discussão ­ após essa nova abordagem ­ seguirá "completamente renovada" ao STJ. "Os desembargadores do TJ­SP abordaram a questão da onerosidade. Então, quando essa questão chegar ao STJ, os ministros terão de analisá­-la por este fundamento, não mais se é constitucional ou não", diz.


Para o especialista, a legislação protege o credor ­ garantindo a execução da dívida ao fim do processo ­ e devedor, que ao fim da ação pode sair vencedor e não dever nada ao Fisco. Ele destaca ainda que, no caso do protesto, a única forma de retirá­-lo é pagar os valores supostamente devidos em dinheiro, ou via depósito judicial.


"E essa é a forma mais onerosa ao devedor. O processo se estende por cinco, seis anos. Imagine uma empresa ter de retirar R$ 50 milhões do seu fluxo de caixa e deixar lá parado por todo esse tempo. Isso pode ser a morte para ela. Diferentemente da ação, em que a dívida pode ser garantida com uma carta-fiança ou com um bem imobilizado", afirma o tributarista.


Até 2012 o Fisco levava a protesto somente dívidas menores que o custo de um processo de execução. "Era uma alternativa de cobrança", diz a advogada Gabriela Jajah, do escritório Siqueira Castro. "Depois o que era alternativa passou a ser regra geral."


O entendimento mudou após a edição da Lei federal nº 12.767, que acrescentou parágrafo único ao artigo 1º da Lei nº 9.492, de 1997 ­ que trata sobre protesto de títulos e outros documentos de dívidas. O dispositivo incluiu "entre os títulos sujeitos a protesto as certidões de dívida ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos municípios e das respectivas autarquias e fundações públicas".

A norma é bastante contestada por advogados e entidades empresariais. O argumento é o de que a prática foi autorizada em uma medida provisória que alterava as regras do setor elétrico. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) ingressou com uma ação direta de inconstitucionalidade contra o artigo que foi acrescentado à Lei nº 9.492, mas ainda não houve julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF).


Representante da indústria envolvida no caso julgado pelo TJ­SP, Frederico Loureiro, do escritório Loureiro, Cione, Simionato e Carvalho Advogados, diz que o principal problema para as empresas protestadas é a dificuldade de obter crédito. "Só serve [o protesto] para deixar a posição do contribuinte muito prejudicada perante o mercado", afirma o advogado.


O governo de São Paulo já recorreu da decisão. Por nota, a Procuradoria Geral do Estado afirma que "a possibilidade do protesto de certidão da dívida ativa de ICMS já foi declarada constitucional pelo Órgão Especial do TJ­SP" e considera "como isolada" a decisão da 11ª Câmara de Direito Público. 


Por Joice Bacelo
Fonte: Valor Econômico

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