Por Renato
Carbonari Ibelli
Fonte: Diário do Comércio - SP
A proposta busca
desburocratizar os procedimentos das micro e pequenas empresas que querem
explorar o mercado externo. Esse segmento responde por 1% das exportações do
país
O
Simples Internacional, proposta em análise pelo governo para estimular a atuação
das micro e pequenas empresas no comércio exterior, deve dispensar esses
empreendedores da burocracia necessária para obter a licença de exportação e a
habilitação para vender a outros países.
A
licença de exportação deve ser exigida apenas em casos que envolvam controles
sanitários e fitossanitários, proteção do meio ambiente e segurança nacional,
explica Alexandre Monteiro e Silva, diretor do departamento de mercados e
inovação da Secretaria da Micro e Pequena Empresa (SMPE).
Com
relação à habilitação - que é um controle prévio feito pela Receita Federal
para verificar se a empresa tem condições de operar no comércio exterior – ,a
proposta é que o Simples Internacional garanta a aprovação automática dessa
exigência na primeira operação fora do país.
Segundo
Monteiro e Silva, essa dispensa é justificada pela possibilidade de as empresas
do Simples usarem o chamado Operador Logístico, figura jurídica responsável por
todo o trâmite burocrático necessário para exportar.
“O
Operador já cumpre uma série de requisitos junto à Receita para trabalhar pelas
micro e pequenas empresas”, diz o diretor da SMPE.
O
Operador Logístico já faz a intermediação das operações de exportadoras e
importadoras brasileiras, mas a proposta do Simples Internacional é reduzir a carga
burocrática que hoje recai sobre ele, facilitando e barateando o despacho
aduaneiro.
O
Simples Internacional também deve se apoiar em programas que buscam
desburocratizar processos comerciais, como a Praça Eletrônica de Negócios e o
Portal Único do Comércio Exterior.
A
Praça Eletrônica está sendo desenvolvida pela Secretaria da Micro e Pequena
Empresa e se baseia em um website que concentra produtos e serviços fornecidos
pelos pequenos negócios, deixando-os disponíveis para clientes de dentro ou de
fora do país.
Já
o Portal Único do Comércio Exterior, anunciado em 2014, aos poucos tem
integrado diferentes órgãos envolvidos com o trâmite aduaneiro. Um dos
objetivos é acabar com as exigências repetitivas ao centralizar os
procedimentos de exportação e importação.
A
primeira reunião do grupo de trabalho que está elaborando o Simples
Internacional aconteceu no início do mês.
Segundo
Roberto Nogueira Ferreira, que é consultor da Confederação Nacional do Comércio
(CNC) e faz parte desse grupo, no encontro inicial foi elaborada uma lista
temática de ações que visam simplificar os procedimentos logísticos, os meios
de pagamento e melhorar o acesso a procedimentos digitais para os pequenos
negócios que querem operar no mercado externo.
A
expectativa é que até o final de agosto todos os pontos da proposta do Simples
Internacional estejam definidos. As bases legais para estimular as exportações
das empresas de menor porte estão previstos no artigo 49-A da Lei Complementar
123, de 2006, conhecida como Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas.
Mas
falta um decreto regulando tais ações de estímulo, algo que deverá ser
publicado pela SMPE.
É
bem provável que o piloto do Simples Internacional envolva a Argentina.
Guilherme Afif Domingos, presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (Sebrae), esteve no país vizinho para tratar do tema e deve
retornar em breve para lá, possivelmente em companhia do presidente interino
Michel Temer, para dar continuidade às negociações.
“A
proximidade geográfica é um dos fatores que facilita esse piloto com a
Argentina, além, obviamente, da existência de mercado para os produtos
brasileiros naquele país”, diz Ferreira, que também integra o conselho
deliberativo do Sebrae.
A
Argentina também é opção para iniciar o projeto porque já possui um acordo com
o Brasil prevendo o uso de moeda local - e não o dólar - nas negociações
comerciais. Esse mecanismo, chamado Sistema de Moeda Local, já existe há alguns
anos, e também envolve o Uruguai, mas é pouco utilizado.
“Para
as micro e pequenas empresas esse sistema é um facilitador, mas as instituições
financeiras não o divulgam porque o uso de moeda local não é atrativa para
elas. Por isso o Sebrae terá o papel de divulgar esse sistema”, diz Ferreira.
O
conceito do operador logístico será levado para o mercado argentino, segundo
Monteiro e Silva, da SMPE, adaptando a ideia da simplificação do trâmite
aduaneiro à realidade do país vizinho.
Mas
a iniciativa valerá para todos os parceiros comerciais do Brasil. “O Simples
Internacional irá introduzir procedimentos simplificados nas exportações das
micro e pequenas empresas brasileiras, que valerão para vendas externas a
qualquer país”, afirma o diretor da SMPE.
POTENCIAL
As
exportações das micro e pequenas empresas respondem por cerca de 1,08% das
vendas externas do país, movimentando, aproximadamente, US$ 2 bilhões ao ano.
Um
levantamento do Sebrae feito em 2014 apontou que dentro de um universo de mais
de 9 milhões de pequenos negócios, apenas 11,2 mil exportavam.
Os
números mostram que o mercado externo ainda parece ser algo inatingível para as
empresas de porte menor. Mas o consultor da CNC tem uma visão mais positiva,
olhando para o potencial existente nessas vendas.
“Esse
potencial nos estimula a buscar a simplificação dos procedimentos. A Receita
Federal tem de inserir os negócios de menor porte em sua agenda e reconhecer
que não se pode exigir deles o mesmo tratamento conferido às demais empresas
exportadoras”, diz Ferreira.
Para
ele, embora os entraves existentes às exportações prejudiquem todas as
empresas, independentemente do porte, são os pequenos negócios que realmente
sofrem por não terem estrutura suficiente para assimilar o excesso de
burocracia.
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