É o que afirma a
psicóloga e coach Lígia Martins, uma detetive da alma corporativa. Para ela,
porém, o momento exige uma mente voltada para o autoconhecimento pessoal e da
empresa
Uma
das principais características do empreendedor brasileiro é ter uma mente
voltada para o mundo das ideias. Por vezes, nem sabe se o que pediu para um
funcionário fazer vai dar certo -mas arrisca e manda executar.
O
‘sair fazendo’ pode dar certo quando as vendas estão mais fáceis, e o mercado,
em expansão. Num momento de crise, este modo de agir pode até colocar o negócio
em risco.
A
análise é da psicóloga Lígia Martins, coach de empresários e executivos,
principalmente de grandes organizações, com experiência de duas décadas na área
de Recursos Humanos do Grupo Pão de Açúcar.
Desde
2006, quando saiu do GPA, Lígia se tornou uma espécie de detetive da alma
corporativa. Fica frente a frente, quase diariamente, com empreendedores e
executivos de companhias dos mais variados setores.
Com
o agravamento da crise, o que todos eles querem de Lígia são pistas para se
comportar e agir diante de uma das maiores crises já enfrentadas por eles e
pelo país.
O
que passa na mente desses comandantes de empresas cheio de ideias quando, de
repente, a receita da companhia despenca, a margem de lucro se reduz quase a
zero e o dinheiro no caixa mal dá para pagar as contas do mês?
Num
primeiro momento, segundo Lígia, vem o susto. É quando ficam perdidos,
desnorteados, sem saber o que fazer, como ela testemunha nas sessões que
realiza.
Em
seguida, surgem decisões imediatistas, como o fechamento de fábricas ou lojas e
até demissões.
Executivos
e empreendedores, como ela afirma, costumam agir como se fossem super-heróis.
Acham que, sozinhos, vão dar conta de encontrar soluções para os problemas que
surgem na organização. Não escutam, muitas vezes, os próprios funcionários.
É
comum clientes ‘pesos pesados’ relatarem que, quando surge uma ideia, convocam
imediatamente um diretor numa sala e mandam executar até o que apareceu em um
sonho.
“O
convite que a crise faz para o empresariado, neste momento, é aquiete a mente,
fique em silêncio, respire, organize o pensamento”, afirma a psicóloga.
É,
segundo ela, o momento de buscar o autoconhecimento, e de olhar para o modelo
de negócio e a gestão de processos e pessoas, já que as relações se tornam
extremamente feridas num período de crise.
A
mente de um empresário em momento de prosperidade, de acordo com Lígia, é muito
mais criativa, arrojada e voltada para o presente. Ela funciona até com certo
relaxamento na condução do negócio.
“Costumo
dizer que, em fase de expansão, os donos das empresas não delegam, eles
‘delargam’. Tiram dinheiro do caixa das empresas com muito mais facilidade, e
ficam mais desatentos com o futuro do negócio.”
Na
crise, o empresário fica com a mente mais perturbada, com a fala desgovernada e
se revela mais impaciente, irritado, e não apenas com os empregados, mas também
com a família, com o trânsito.
Sob
pressão, é o momento também, diz ela, de aproveitar as oportunidades, de o
empresário repensar o modelo de negócio. “E isso se faz por meio da construção
de grau de consciência, não de ‘achismo’. É o momento de reflexão”.
O
livro Foco, de Daniel Goleman, de acordo com Lígia, pode ser uma boa ferramenta
para ajudar o empresário que está em apuros neste processo. Para os mais
espiritualistas, a dica da coach é ler o "Meditando a Vida", de Padma
Samten, com ensinamentos budistas.
Leia
a seguir os principais trechos da entrevista com a coach Lígia Martins.
A MENTE NA CRISE
Na
recessão, a mente do empresário entra em
conflito, fica perturbada. No dia a dia, ele se mostra impacientes, fica com a
fala desgovernada e, em alguns momentos, pode demonstrar depressão.
No
final de 2014 e começo de 2015 eu via os empresários desesperados, assustados,
afoitos. Eles não conseguiam concluir uma frase, encaixavam uma fala na outra,
sem concluir a primeira. Era como se eles não elaborassem, não conseguissem
editar o pensamento.
O
que mais senti neles, principalmente naquele período, foi uma dificuldade de
permanecer centrado, consciente sobre as ações. E foi exatamente isso que eles
vieram buscar comigo.
Um
empresário centrado, equilibrado, em cenário ruim ou bom, tem maior facilidade
de achar as respostas que precisa.
Executivos
que ficaram desempregados também me procuraram para, por meio do
autoconhecimento, aproveitar o momento da crise para fazer escolhas.
A
crise trouxe, portanto, a bela chance para o empresário frear o ritmo, olhar ao
redor, pensar e enxergar as mudanças que ele precisa fazer nele mesmo que serão
capazes de gerar resultados na sua organização.
TEMORES
Os
donos de empresas e os executivos mais inseguros, aqueles emocionalmente
infantis, têm medo de ficar pobre, de não mais gerar riqueza para a família, de
perder o padrão de vida, a possibilidade de colocar os filhos em uma boa
escola. O medo, portanto, está mais ligado à causa própria.
Os
empresários mais centrados, mais maduros, já pensam mais no coletivo, estão
mais preocupados com a vida do outro. Eles vivem uma pressão interna na qual
eles se sentem responsáveis por colocar famílias em uma situação ruim.
Um
cliente deste tipo trouxe a seguinte questão: como demitir um executivo que ele
havia contratado há dois anos. Isso causou um sofrimento grande para ele. Outro
medo deste tipo de empresário é de errar, o que provoca uma pressão grande na
mente dele.
COMO FICAR
CENTRADO
Isso
se constrói por meio da consciência, do autoconhecimento. Quando o empresário
amplia a consciência do negócio, consegue enxergar qual o melhor caminho para a
sua empresa hoje e que será capaz de dar resultados no futuro.
Mas
tudo isso se constrói por meio de um processo. São horas e horas de trabalho
com o profissional. Ele não vai sai daqui centrado após uma hora e meia de
conversa.
Se
há um problema, o empresário tem de enfrentá-lo. O que eu digo é que ele
precisa olhar o problema de acordo com o tamanho dele, nem com lente de
aumento, nem com o binóculo virado ao contrário, de modo que o problema fica
distante.
Uma
empresa de varejo multinacional teve de enfrentar um problema de relacionamento
de pessoas no nível de gerência. Descobrimos que uma das pessoas da gerência
fazia um inferno enorme na organização por meio da manipulação de pessoas e
fofocas.
Identificado
o problema e resolvido, a empresa conseguiu expandir o negócio no Brasil, pois
a liderança conseguiu fazer a gestão de fato da empresa, que antes estava sendo
realizada de forma oculta por uma ‘batata podre’.
Os
empresários precisam tomar as decisões de forma centrada, consciente, para que
as ações tenham um efeito em cascata dentro da organização. E é preciso seguir
rituais para falar delas, em uma reunião, por exemplo, no dia tal e em tal
horário.
Fonte: Diário do Comércio – SP
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