Os estudos vão na direção de tornar a
tributação pelo Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) mais progressivo,
mirando nas rendas mais elevadas
Mesmo
na remota hipótese de o Congresso Nacional aprovar a recriação da Contribuição
Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF), o governo vai tentar
aumentar impostos, sobretudo os que incidem sobre a renda, a partir de 2017. As
propostas deverão ser encaminhadas ao Congresso Nacional ainda neste semestre,
segundo tem dito o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa.
Os
estudos vão na direção de tornar a tributação pelo Imposto de Renda da Pessoa
Física (IRPF) mais progressivo, mirando nas rendas mais elevadas. A ideia é
criar mais faixas e alíquotas. As modificações deverão atingir ainda as pessoas
jurídicas mas, também nesse caso, o alvo são as altas rendas. O governo vai
cobrar mais das pessoas que recebem salário como se fossem empresas.
Há,
também, uma medida que em tese não é destinada a aumentar a arrecadação, e sim
a melhorar o ambiente para os negócios. A proposta de reforma do PIS/Cofins,
discutida há alguns anos pelo governo, está praticamente pronta. Esse é o
tributo mais complexo do sistema brasileiro, e a proposta simplifica a forma
como ele é calculado. Alguns setores afirmam, porém, que terão aumento da carga
com a mudança.
Tudo
isso, evidentemente, não leva em consideração o quadro político e a
possibilidade de afastamento da presidente Dilma Rousseff. A equipe econômica
vem trabalhando em ritmo acelerado para apresentar ao Congresso Nacional as
medidas de ajuste nas contas públicas que considera necessárias, ainda que a
possibilidade de aprovação delas, no momento, seja muito baixa.
São
ideias válidas mesmo num cenário pós-impeachment, conforme indicou Barbosa em
reunião na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE), na semana passada.
Ele afirmou que os problemas fiscais do País não serão eliminados num passe de
mágica "por qualquer que seja a solução política encontrada para o
problema atual", e que o desafio é enfrentar a rigidez das despesas e
recuperar as receitas do governo.
As
alterações em estudo poderão resultar em aumento da arrecadação, segundo
informou o ministro. Mas o governo só poderá contar com o dinheiro extra a
partir de 2017, porque o princípio da anterioridade, previsto na Constituição,
diz que os aumentos de impostos só poderão entrar em vigor no ano seguinte à
sua aprovação pelo Congresso Nacional.
Os
estudos para mudanças no IRPF foram iniciados no ano passado. Pressionado pelo
PT, que queria medidas para tributar o chamado "andar de cima", o
ministro da Fazenda, Joaquim Levy, chegou a confirmar mudanças no Imposto de
Renda, que acabaram não sendo encaminhadas.
Para
fechar as contas neste ano e no próximo, o governo quer mesmo é a volta da
CPMF. Por se tratar de uma contribuição - e não de imposto -, ela pode começar
a ser cobrada 90 dias após a aprovação. Assim, a expectativa é que haja
ingresso de R$ 10 bilhões ainda em 2016.
CARGA
MENOR
Barbosa
tem utilizado dados da arrecadação federal, que está em queda, para rebater a
ideia de que não há mais espaço para aumentar tributos. Dados do Tesouro
Nacional mostram que as receitas primárias (não financeiras) do governo federal
foram equivalentes a 21% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, um
nível próximo aos 21,5% do PIB de 2002. Isso, depois de ter atingido um pico de
23,6% do PIB em 2010, um ano de forte crescimento.
"Sim,
a carga tributária baixou", disse o economista José Roberto Afonso,
pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas
(Ibre-FGV). "Por que devemos mexer na receita antes de tentar mexer no
gasto?", questionou.
Aumentar
as alíquotas do IRPF, disse Afonso, não atingirá os maiores salários do País,
porque as pessoas de alta renda recolhem como pessoas jurídicas.
"Alcançará basicamente só servidores e funcionários de empresas estatais e
multinacionais, com um ganho provável pequeno e cada vez menor de
arrecadação."
Ele
observou, também, que a CPMF é o mais regressivo dos tributos. "Quem quer
melhorar a progressividade do sistema tributário brasileiro deveria começar rejeitando a CPMF", afirmou.
Para
analistas de orçamento da Câmara dos Deputados, utilizar os dados da
arrecadação dos últimos anos para justificar aumentos de impostos é algo
questionável. Isso porque o recolhimento de receitas foi provocado
principalmente pela retração da atividade econômica e, possivelmente, porque
empresas estão deixando de recolher tributos para fazer caixa.
Em
tese, a carga deveria ter aumentado no ano passado, quando foram revertidas
diversas desonerações tributárias adotadas a partir de 2008. Porém, o que se viu
foi uma queda de 0,5 ponto porcentual de PIB nas receitas primárias do governo
central.
A
hipótese de as empresas estarem trocando empréstimos bancários pelo dinheiro
que seria utilizado para pagar tributos foi admitida pelo ministro da Fazenda
na reunião da CAE.
Ele
disse que o governo tenta minimizar esse problema oferecendo mais linhas de
crédito, sobretudo as destinadas ao capital de giro.
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