A cerimonialista Rosângela Maia, 39
anos, moradora de Taguatinga (DF) resolveu abrir o próprio negócio há seis
anos. Mas para se tornar microempreendedora individual precisou alugar um
escritório para registrar como sede da empresa, a Diversão Eventos. Paga R$ 700
mensais de aluguel, mais a tarifa de energia, para manter o local, distante uns
dez quilômetros de casa. Com a nova lei sancionada em abril (Lei Complementar 154/2016), que autorizou o uso
do endereço da residência para sediar o estabelecimento comercial, Rosângela
poderá cortar esse custo do escritório.
Casos como o dela mostram que é
possível arrefecer a crise econômica e oferecer alternativa aos milhões de
desempregados do país. Desde 2012, aproximadamente 1 milhão de pessoas tem se
formalizado como microempreendedores a cada ano, segundo dados do Sebrae. Em
2015, foram 5,6 milhões de inscritos em todo o país e a expectativa é que esse
número aumente mais em 2016, confirmando o dinamismo do setor.
A nova lei que autorizou os
microempreendedores individuais (MEIs) a registrar o negócio em sua própria
casa, sempre que não for exigida a existência de local próprio para o exercício
da atividade, veio para ajudar.
— Como atendo mais por e-mail e por
telefone, não precisarei de um escritório. Isso é um custo a menos para a
empresa e um pouco mais de conforto para mim. Consigo assim dar mais atenção à
família ao não precisar sair da minha casa — comemora Rosângela.
FACILIDADE
A lei, de iniciativa do deputado
Mauro Mariani (PMDBSC), foi aprovada no fim de março pelo Congresso. Ela
acrescentou o parágrafo 25 ao artigo 18-A da Lei Complementar 123/2006, que criou o Simples Nacional. A intenção é
facilitar a adesão das pessoas ao Simples, afastando restrições impostas por
leis estaduais que não permitem o uso do endereço residencial para cadastro de
empresas.
Conforme explica José Carlos
Silveira, consultor legislativo do Senado na área de direito econômico e
regulação, direito empresarial e do consumidor, a lei cria um ambiente mais
propício para a formalização das empresas ao afastar qualquer possibilidade de
conflito para a residência funcionar como sede do estabelecimento. Além disso,
ao permitir que o MEI dispense o aluguel de um imóvel comercial, a lei reduz
despesas, fazendo com que sobrem mais recursos para empreender.
— As melhorias começam, basicamente,
com a facilidade para abertura de empresas, desburocratizando o ambiente. E,
num país com mais de 10 milhões de desempregados, é mais um estímulo para que
ele formalize o negócio — acredita o consultor.
Para Blairo Maggi (PR-MT), que relatou
o projeto na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), são grandes os benefícios
da lei.
— Empreender ficava mais caro, com
aluguel, energia, e segurança. Isso impedia as pessoas de iniciarem um pequeno
negócio. Com essa mudança, as coisas se inverteram. Tudo ficou mais barato e
ainda é possível contar com a ajuda dos filhos e dos cônjuges para secretariar
o processo, coisas que antes não havia condições de fazer — reforça.
SONHOS
O presidente do Sebrae Nacional,
Guilherme Afif Domingos, sustenta que muitos profissionais alimentam o sonho de
abrir o próprio negócio. Mas, por terem emprego, se mantêm numa espécie de zona
de conforto. Ao serem demitidos, recebem o sinal para tentar concretizar o
sonho e ir à luta.
Levantamento da Boa Vista SCPC
(Serviço Central de Proteção ao Crédito), com base em dados da Receita Federal,
indicou o avanço de registros de microempreendedores individuais no primeiro
trimestre de 2016 em comparação com o mesmo período de 2015. A pesquisa mostrou
que os registros de MEIs cresceram 14,3%, enquanto as microempresas e demais
formas jurídicas diminuíram 10,4% e 19,6%, respectivamente.
Para Afif Domingos, os MEIs
contribuem para movimentar a economia do país, ressaltando que, nos últimos
anos, contingente equivalente à população do Uruguai saiu da informalidade e se
tornou microempreendedor.
— Essas pessoas passam a ser tanto
contribuintes da Previdência Social quanto beneficiários. Ajudam a gerar renda.
E se tiverem sucesso, geram empregos — explica o presidente do Sebrae.
O início do programa de MEIs foi
difícil, diz Afif Domingos, que foi secretário especial da Micro e Pequena
Empresa do governo federal. Ao registrar o próprio endereço como sede da
empresa, muitas vezes o microempreendedor via a prefeitura e as concessionárias
de energia, telefone ou água subirem os valores das cobranças pelo serviço por
identificar o local como de funcionamento de pessoa jurídica. Ou então, ao
perceberem que era somente a residência do empreendedor, proibiam que aquele
endereço fosse usado como sede do estabelecimento. Com a nova lei, o uso do
endereço residencial não acarretará em aumento de IPTU, luz e água.
— Por exemplo: o cidadão limpa
piscinas e dá o endereço da residência porque presta serviços nas casas dos
clientes. Antes ele tinha de ir ao contador, que criava um endereço e cobrava
por isso. Era comum encontrarmos em determinada casa mais de 300 CNPJs de
microempreendedores que alugavam aquele endereço para formalizar suas
atividades. Agora isso é desnecessário — esclarece.
MODERNIZAÇÃO
Blairo afirma que a lei converge com
os novos modelos de trabalho, em que se estimula cada vez mais o home office
(escritório doméstico). A popularização da internet e das redes sociais
facilitou o trabalho em casa.
Ao autorizar o registro da empresa no
endereço residencial, a nova lei não definiu quais as atividades de risco que
precisam de regulamentação. Para Blairo, o MEI tem de ter responsabilidade para
não incomodar os vizinhos. Lembrou que em caso de barulho ou risco para a
vizinhança, há órgãos competentes para fiscalizar e resolver o problema.
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