Por Estadão Conteúdo
Fonte: Diário do
Comércio - SP
Estudo de
pesquisadores do IPEA propõe a redução de tributos sobre empresas como
contrapartida à cobrança de IR sobre os dividendos recebidos por pessoas
físicas
O
pacote de medidas tributárias anunciado nesta sexta-feira (06/05) pelo
Ministério da Fazenda é positivo, mas “incompleto” e “pontual”, porque deixa de
fora reformas para tornar a estrutura de impostos mais justa.
A
avaliação é de dois economistas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), que sugerem a cobrança de Imposto de Renda (IR) sobre a parcela do
lucro das empresas distribuída a pessoas físicas como saída para arrecadar de
R$ 43 bilhões a R$ 59 bilhões por ano, mais do que a recriação da CPMF.
“A
CPMF é a pior opção”, afirmou Sérgio Gobetti, da Diretoria de Estudos e
Políticas Macroeconômicas do Ipea. Segundo ele, a CPMF é “regressiva”, porque é
cobrada em cadeia, de forma cumulativa, pesando mais sobre os mais pobres.
Gobetti
e seu colega de Ipea Rodrigo Orair sustentam, em artigo publicado mês passado,
que a crise política e econômica, com rombo nas contas públicas e intolerância
ao aumento de impostos por parte de empresários e consumidores, exige “uma
reforma tributária que contemple as dimensões de equidade e eficiência”, sem
aumentar a carga tributária.
No
estudo, com dados da Declaração Anual do Imposto de Renda, da Receita Federal -
ao estilo do economista francês Thomas Piketty -, os pesquisadores do Ipea
propõem a redução de tributos sobre empresas como contrapartida à cobrança de IR
sobre os dividendos (como é chamada a parte do lucro pago aos acionistas)
recebidos por pessoas físicas.
A
redução dos tributos para as empresas seria feita aos poucos ao longo de anos.
Se as medidas já estivessem valendo este ano, o resultado seria R$ 47 bilhões a
mais nos cofres públicos ainda neste ano.
Para
comparar, quando o então ministro da Fazenda, Joaquim Levy, anunciou a proposta
de volta da CPMF, em setembro passado, a projeção era arrecadar R$ 32 bilhões
este ano.
Na
proposta do artigo, a redução de impostos para ano a ano levaria a uma renúncia
fiscal de R$ 500 milhões em 2022. Considerando que, até lá, a volta do
crescimento econômico elevaria a arrecadação e haveria tempo para aprovar
cortes de gastos, o efeito sobre as contas públicas seria positivo. “O ajuste
fiscal precisa ser solidário e a estrutura tributária, mais eficiente”, disse
Orair.
Segundo
os economistas, desde 1995, o Brasil é um dos poucos países com economia
relevante que não cobram imposto algum sobre dividendos.
Com
isso, os muito ricos pagam menos impostos, proporcionalmente, do que os
assalariados de classe média alta. Para os mais pobres, o peso é ainda maior,
mas a conta é indireta: como há muitos impostos sobre bens e serviços, vários
preços são mais altos no Brasil do que no exterior.
Segundo
Gobetti e Orair, na média, países da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE, grupo que reúne os países mais desenvolvidos)
tributam os lucros em 49%, sendo 25% nas empresas e 24% sobre as pessoas
físicas que são acionistas. No Brasil, o lucro das empresas leva mordida de
34%, mas os acionistas não pagam nada.
Nas
simulações dos pesquisadores, tributar dividendos na fonte com 15%, como era
até 1995, atingiria 2,1 milhões de brasileiros e aumentaria a receita em R$ 43
bilhões (em valores de 2013). Se os dividendos fossem taxados pela atual tabela
do IR, com faixa de isenção e alíquotas de 7,5% a 27,5% conforme a renda,
apenas 1,2 milhão pagariam mais e a receita adicional seria R$ 59 bilhões.
Para
Gobetti, o pacote de ontem poderia ter incluído o IR sobre dividendos, ainda
que com uma alíquota pequena. “Teria a virtude de abrir essa discussão na
sociedade”, afirmou o economista, lembrando que, na lista de propostas para
resolver a crise fiscal, há poucas medidas que afetam o “andar de cima”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Recurso exclusivo para assinantes do Blog Siga o Fisco
Para Consultoria, Palestras, Cursos, Treinamento, Entrevista e parcerias, envie através de mensagem e-mail, nome e contato.