Por Inês Godinho
Fonte: Diário do Comércio – SP
Deixar de pagar a
própria previdência social é uma realidade comum entre os pequenos empresários –
e não acontece apenas por falta de dinheiro
O
assunto deve ter passado pela sua cabeça nos últimos anos - como será minha
aposentadoria se não pago o INSS? Você até foi atrás de informação, mas, a cada
palpite de colegas, horas amargadas em uma fila ou a explicação dada de má
vontade por um funcionário da Previdência, deixava para lá. Matar um leão por
dia ocupa tempo demais na vida de pequeno empresário. Mas, agora, perto da meia
idade, não dá mais para jogar as dúvidas para debaixo do tapete. É hora de decidir.
Vale
a pena retomar as contribuições? Ainda tenho algum direito? A Previdência vai
quebrar antes que eu consiga os benefícios? Vários mitos e muita complexidade
complicam o acesso a informações básicas da previdência social e atrapalham a
decisão de quem deixou um emprego para empreender – e desistiu de contribuir
para o INSS.
É
verdade que, até anos recentes, o sistema de previdência social funcionava como
um buraco negro, amedrontador e inacessível para quem não tinha carteira
assinada ou não era funcionário público. Hoje, os dados de todos os
contribuintes estão registrados; o acesso, automatizado e o atendimento,
organizado. Não está perfeito, mas representa um avanço considerável.
Mesmo
que você já tenha ou pretenda ter algum tipo de reserva para financiar sua
aposentadoria - com previdência privada, imóveis, fundos, ações ou aplicações
no Tesouro Direto - as contribuições ao INSS devem ser vistas como a base da
sua cesta de investimentos. O especialista em previdência Newton Conde, diretor
da Conde Consultoria Atuarial e professor da Fipecafi-FEA/USP, esclarece as
dúvidas mais frequentes para quem vive este dilema.
Compensa contar
com o INSS nos meus planos de aposentadoria, mesmo estando tanto tempo sem
pagar as contribuições?
Os
especialistas em aposentadoria e finanças pessoais asseguram que sim. A renda
proporcionada pela Previdência Social, embora seja insuficiente, garante um
valor básico e vitalício para quem deixou de trabalhar e também ajuda a compor
uma renda maior, caso você consiga fazer outros investimentos. Além disso, dá
direito a outros benefícios que não dependem da idade e costumam ser
subestimados pelos empreendedores. Um deles é a pensão por morte, estendida ao cônjuge
viúvo ou aos herdeiros menores de idade. Não há no mercado nenhum plano de
seguro tão completo e acessível quanto o da Previdência Social.
O que significa
perder a condição de segurado?
Quando
interrompe a contribuição, você perde o direito aos outros benefícios
concedidos pelo INSS: auxílio-doença, auxílio-acidente, auxílio-reclusão,
salário-maternidade, aposentadoria por invalidez e pensão por morte, recursos
essenciais para enfrentar situações que podem levar a baques financeiros. Ao
contrário da aposentadoria, eles podem ser acionados em qualquer período da
vida, e fazem muita diferença especialmente para quem trabalha como empresário
ou autônomo.
Se eu
interromper as contribuições e perder a condição de segurado, perco também o
que já paguei ao INSS?
Não,
o que já foi pago, seja como empregado ou como autônomo, sempre fará parte do
seu fundo de contribuição na Previdência. Mas se tiver feito menos de 180
contribuições (correspondente a 15 anos), precisará retomar os pagamentos até
atingir este prazo mínimo de carência para que tenha o direito de receber a
aposentadoria. Se já tiver completado 180 contribuições, mesmo que esteja há
anos sem pagar, poderá se aposentar por idade, que é de 60 anos para mulheres e
65 para homens, sem precisar recuperar a condição de segurado. Para saber os
detalhes destes procedimentos, consulte o portal do INSS.
Consigo me
aposentar por idade automaticamente?
Não
consegue. Você precisará combinar a idade mínima (60 anos para mulheres e 65
para homens) com a exigência de período mínimo de contribuições ou 180 meses.
Isto vale independentemente do valor da sua contribuição. Lembre-se que vale a
regra: quanto maior o valor da contribuição, maior o valor do benefício; idem
para o tempo de contribuição.
Em que situação
eu perco o direito aos outros benefícios de segurado?
Há
duas situações. Se tiver feito menos de 120 pagamentos, perde os benefícios
depois de um ano sem contribuir. Se tiver feito mais de 120 pagamentos, o prazo
se estende para dois anos. A previdência
concede esta vantagem para que a pessoa tenha tempo de conseguir outro emprego
ou condições financeiras para voltar a pagar. Passado o prazo, o direito aos
benefícios é suspenso.
Como recupero a
condição de segurado?
Assim que retomar o
pagamento das contribuições como empregado ou como contribuinte individual você
volta à condição de segurado. Mas precisará cumprir diferentes prazos de
carência, entre 12 e 36 meses, para ter direito a cada um dos benefícios. Um
dos mais importantes para um empreendedor, o auxílio-doença, exige 12 meses de
pagamento.
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