Por João Batista Natali
Fonte: Diário do Comércio – SP
Jurista
participou nesta terça (07/03) do Fórum Reforma Brasil, da ACSP. Ele também
revelou que entregará aos advogados de Temer documento que o desvincula da
campanha de Dilma de 2014
O
jurista Ives Gandra Martins afirmou
que o ICMS é
um fator de desagregação da federação brasileira, por favorecer a guerra fiscal
e colocar os Estados uns contra os outros.
Numa
reforma tributária, afirmou defender “uma solução radicalíssima”, com dois
únicos tópicos. Seria a proibição de incentivo fiscal com o ICMS e a
instituição de uma alíquota única para todo o país.
Ives
Gandra foi um dos palestrantes, nesta terça-feira (07/03), do segundo e último
dia do Fórum Reforma Brasil,
promovido pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
O
encontro foi também promovido pela Federação das Associações Comerciais
do Estado de São Paulo (Facesp), com apoio do Instituto Panthéon Jurídico, do
Sescon-SP, que cedeu seu auditório para os trabalhos, e ainda do Instituto
Brasiliense de Direito Público (IDP) e da Fecomercio-SP.
Gandra
argumentou que uma reforma tributária deveria se acoplar a uma reforma
administrativa, para racionalizar e tornar mais leve a máquina oficial.
Enquanto
no Brasil a carga tributária é
de 35%, nos Estados Unidos e na Coreia do Sul ela é de 24%, e, no México, de
19%.
O
ICMS, nesse ponto, é uma espécie de “nó górdio”, que, por meio dos incentivos
fiscais, transforma o Brasil “numa federação de inimigos”. Uma reforma
tributária, disse ele, também precisaria simplificar a legislação.
Na
agenda política, Gandra disse esperar que o governo do presidente Michel Temer
se beneficie de estabilidade para levar a bom termo a agenda de reformas que
já vem implantando.
Um
dos fatores que conspiram contra a estabilidade é o processo que corre no Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) que pode, em tese, cassar o mandato do
presidente.
O
jurista revelou que está preparando um documento a ser entregue aos advogados
de Michel Temer, que argumenta ser possível e até mesmo inevitável a separação
dos orçamentos de campanha da chapa encabeçada por Dilma Rousseff,
em 2014.
Ou
seja, Temer não é responsável pelos crimes de suborno e caixa dois que a Lava
Jato e as investigações do TSE desvendam na campanha do Partido dos Trabalhadores.
Gandra
diz que já existe doutrina para separar os orçamentos e a imputabilidade das
duas campanhas.
Tratam-se
de decisões judiciais sobre coligações para cargos proporcionais, em que, por
exemplo, crimes eleitorais que levem à cassação de vereadores não contaminam,
na mesma coligação, o mandato de deputados.
Gandra
também se referiu ao projeto de reforma política,
que ele e um grupo de especialistas está elaborando em nome da OAB-São Paulo e
da Fecomercio.
A
proposta inovadora estaria na instituição do parlamentarismo, mas não nos
termos do plebiscito de 1993, em que o sistema de governo foi rejeitado, porque
o projeto de então previa a eleição indireta do presidente da República.
O
plano é agora manter a eleição direta para o cargo, mas com a paralela criação
de um chefe de governo, que seria responsável pela gestão do Estado.
A
seu ver, a proposta é particularmente necessária, porque o Brasil se assemelha
hoje a um doente enfermo que estará deixando a UTI no final de 2018.
O
clima, diz ele, é propício para a aparição de “salvadores da pátria”, com
ideias demagógicas e desestabilizadoras.
OS
28 ANOS DE CONSTITUIÇÃO
O
ex-senador e ex-governador gaúcho Pedro Simon, segundo orador do Fórum Reforma
Brasil, afirmou que só nos últimos três anos, com a Lava Jato,
é que os instrumentos criados pela Constituição de 1988 tendem a pôr fim à
ideia de que o Brasil era o país da impunidade.
PEDRO
SIMON: BRASIL NÃO É MAIS O PAÍS DA IMPUNIDADE.
FOTO:
DIVULGAÇÃO
“Pela
primeira vez as coisas estão acontecendo”, disse ele, não apenas por meio da
descoberta de crimes, mas também pela punição dos envolvidos. “O presidente da
maior empreiteira do país está na cadeia!”
Sobre
o biênio propriamente dito de elaboração do texto constitucional, Simon disse
que tudo ocorreu sob a égide de um governo fraco, o de José Sarney, que não
dispunha do capital político de Tancredo Neves, de quem foi apenas o vice.
Tancredo morreu antes de tomar posse.
Sarney
pouco arbitrou em questões levantadas pelos constituintes. E estes, na falta de
consenso, apenas mencionavam questões – reforma agrária, fidelidade partidária,
reforma tributária – e remetiam comodamente, no texto constitucional, a leis
complementares que nunca chegaram a ser discutidas nos anos seguintes.
BRASIL
É UM PAÍS MAIS LIVRE
Outro
orador foi o professor Fernando Facury Scaff (Faculdade de Direito-USP), para
quem, entre os grandes acertos da Constituição de 1988, estão as amplas
liberdades públicas e a busca da diminuição das desigualdades, o que não deixa
de ser uma maneira de incluir no mercado parcelas da população antes submetidas
à extrema pobreza.
Quanto
aos erros, especial ênfase no ICMS (ampliação do antigo ICM), que “acabou
virando um monstro”, pelo fato de representar “uma tributação subnacional”
(decidida pelos Estados), tornando-se uma espécie de IVA (Imposto sobre o Valor
Agregado) de muitos países europeus, mas de âmbito estadual.
O
ICMS também foi abordado pelo último palestrante do fórum, o economista Bernard Appy.
Ele resumiu as sugestões de reforma tributária, elaboradas pelo Centro de
Cidadania Fiscal, do qual faz parte.
O
atual sistema tributário brasileiro, disse Appy, tem como características
básicas a elevada litigiosidade, a complexidade, e as distorções alocativas
(que estimula a perda da produtividade).
Um
exemplo que explica esse último aspecto. A construção civil em concreto, cimento
e tijolos paga bem menos impostos que as edificações feitas com estruturas
metálicas, preparadas por indústrias especializadas.
BERNARD APPY: SISTEMA TRIBUTÁRIO
ESTIMULA PERDA DE PRODUTIVIDADE. FOTO: DIVULGAÇÃO
Por
uma questão de custos derivados de fator tributário, as estruturas metálicas
são bem menos utilizadas, embora, se fossem tributadas pelas alíquotas do
método concorrente, permitissem construir mais prédios a uma velocidade maior.
Duas
últimas características do sistema fiscal brasileiro são, disse ele, a falta de
transparência e a existência da guerra fiscal entre
Estados.
E
é um país com tributos semelhantes, que batem cabeça e complicam a vida das
empresas. O que seria equivalente ao IVA europeu existe por aqui sob a forma de
quatro tributos: o PIS/Cofins, o IPI, o ICMS e o ISS.
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