Por Renato
Carbonari Ibelli
Fonte: Diário do Comércio - SP
A Abit, que representa os
fabricantes de vestuário, pede uma Reforma Tributária que barateie a mão de
obra, que chega a representar até 60% dos custos da confecção de roupas,
O
setor têxtil está entre os maiores empregadores da indústria. São 1,5 milhão de
postos de trabalho diretos e outros 8 milhões de indiretos gerados ao longo da
sua cadeia. E as contratações só não são maiores porque oferecer emprego no
Brasil custa caro.
Em
média, 30% dos custos de produção das confecções são gerados pela mão de obra,
mas podem chegar a 60% em alguns segmentos -como o de moda íntima feminina.
É
sempre difícil entender como em um país com 12,9 milhões de desempregados, as
contratações sejam desestimuladas devido aos enormes encargos.
Desonerar
o custo do trabalhador é um dos principais pleitos do setor têxtil, algo que
não depende necessariamente de uma Reforma Trabalhista, e poderia virar
realidade por meio de mudanças no sistema tributário.
Para
Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de
Confecção (Abit), um caminho viável seria permitir que a mão de obra gerasse créditos
de Pis/Cofins, medida que beneficiaria aqueles setores que têm mais encargos
sobre a folha de pessoal por empregar mais.
Esse
tema é discutido no âmbito de uma proposta de unificação dos regimes de
Pis/Cofins, em estudo desde o governo Dilma, que seria um primeiro passo de uma
Reforma Tributária mais ampla.
Hoje
esses dois tributos podem ser recolhidos pelo regime cumulativo, que possui
alíquota conjunta de 3%, mas não permite crédito.
Ou
mesmo pelo regime não cumulativo, com alíquota maior, de 9,25%, porém,
permitindo às empresas se creditarem com base na incidência dos impostos ao
longo da cadeia.
A
proposta em estudo coloca todas as empresas, sejam elas do Lucro Real ou do
Presumido, no regime não cumulativo, sujeitas assim a uma alíquota maior, mas
podendo se creditar. Em geral, o crédito é gerado na aquisição de insumos.
Mão
de obra não gera o benefício. Ou seja, para que o pleito da indústria têxtil
seja atendido, essa limitação para a concessão dos créditos teria de mudar.
Essa
é uma demanda geral das empresas que possuem grandes gastos com a folha de
pessoal, como as do setor de serviços, mas ainda não há consenso.
REDUÇÃO DA
CARGA TRIBUTÁRIA
Outra
providência pleiteada pelo setor têxtil é criação de um regime diferenciado
para as empresas de confecção, algo que iria além do Simples Nacional.
A
Abit desenhou em 2014 uma proposta chamada Regime Tributário Competitivo para
Confecção (RTCC), ideia reapresentada ao governo Temer.
Trata-se
de um conjunto de medidas que busca simplificar e desonerar a produção de
confecções de vestuários, tendo como objetivo reduzir a carga tributária desse
segmento dos atuais 17% para 5%.
Entre
as ações consta a possibilidade de as companhias que adquirem mercadorias de
micro e pequenas confecções usarem, integralmente, os créditos de ICMS.
Esse
é um problema do Simples Nacional, segundo Pimentel. “Poucas empresas compram
das pequenas confecções porque o Simples não permite gerar crédito do ICMS de
maneira integral. Isso nós queremos mudar com o RTCC, porque o setor têxtil é
muito dependente das pequenas empresas”, diz o presidente da Abit.
De
maneira geral, o RTCC envolve a simplificação e a redução das alíquotas do IPI,
Imposto de Renda, Pis/Cofins, CSLL e da contribuição patronal à previdência.
“É
algo que vai na linha do Simples, mas para setores que usam muita mão de obra.
O Simples melhorou com a ampliação dos limites para enquadramento e com as
mudanças nas tabelas, mas temos ainda o problema de geração de crédito”, diz
Pimentel
O
presidente da Abit também diz apoiar uma Reforma Tributária mais ampla, desde
que caminhe na direção de um Imposto sobre valor Agregado (IVA). Essa é uma
proposta que ganhou força no âmbito do Conselho de Desenvolvimento Econômico e
Social, formado por empresários e demais representantes da sociedade civil.
Também faz parte de uma proposta de Reforma Tributária que tramita na Câmara do
Deputados.
O
IVA absorveria o ICMS, ISS e o Pis/Cofins. Esse novo imposto seria cobrado uma
única vez, na venda, diferentemente de como ocorre hoje, com imposto incidindo
ao longo de toda a cadeia produtiva, um efeito cascata no qual um tributo
incide sobre outro, encarecendo o produto final.
“A
Reforma precisa simplificar a vida do empresário, para que ele se preocupe
apenas em produzir. Hoje o Brasil está disfuncional no campo tributário. Temos
muitas obrigações acessórias, que geram burocracias, e legislações confusas e
conflitantes”, diz Pimentel.
Ele
exemplifica com o ICMS, que tem legislações diferenciadas de estado para
estado, o que exige das empresas tempo e recursos para o cumprimento de todas
as obrigações. “Não acho que seja necessário recriar o Ministério da
Desburocratização (durante o governo Geisel), mas seria valioso se todos os
dias o governo baixasse um ato de simplificação”, afirma o presidente da Abit.
REINTEGRA
Outra
demanda dos empresários do setor têxtil no campo tributário é a ampliação dos
créditos do Reintegra, um regime especial que devolve, parcial ou
integralmente, resíduos tributários gerados na cadeia de produção de itens
voltados à exportação.
Hoje,
o crédito tributário devolvido pelo regime é de 2% das receitas de exportação.
Para Pimentel, o crédito justo deveria ser entre 5% a 7%. Ele vê o Reintegra
como sendo uma ferramenta para o exportador mais importante do que o câmbio.
Em
2016, as exportações do setor têxtil caíram 3,7%, para 199 mil toneladas, o que
gerou um déficit na balança setorial de US$ 3,2 bilhões.
O
faturamento do setor têxtil e de confecção no ano passado foi de R$ 129
bilhões, valor 1,5% menor que o de 2015 (R$ 131 bilhões). E o investimento em
máquinas e equipamentos foi de R$ 1,67 bilhão, 25,5% a menos do que em 2015,
quando o investimento chegou a R$ 2,24 bilhões.
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